Bem dizer

No seminário “A Ética da Psicanálise”, Lacan chama atenção para a máxima do preceito religioso “amar ao próximo como a si mesmo”, demonstrando que Freud em seu ensaio “mal estar na civilização” já denunciava esse engodo. Por isso mesmo, pode-se pressupor que a ética da psicanálise é um “bem dizer” da renúncia fundamental, da cicatriz que marca a ferida narcísica, do limite primário a que a língua se impõe enquanto falta fundante e, portanto, como aquele que retira, que subtrai do nosso gozo, nesse sentido, estaríamos mais próximos de Sade. Pois é o ódio que habita, desde o início, como aquele outro da linguagem que retira de nós o gozo. A língua é o limite do gozo, portanto a Lei que se impõe, de saída, a uma renúncia. O problema se instala quando o direcionamento do ódio fica em todo e qualquer lugar. Por isso o “bem dizer” como possibilidade de tratamento da palavra que, em ultima instância, já é da ordem da falta. O mal estar da civilização traz esse paradoxo: o processo civilizatório exige renúncia.

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