A “promessa” no surgimento da ciência moderna, na idade das luzes,
convenceu a muitos intelectuais. Data desse momento histórico a ideia
de que a ciência poderia solucionar os problemas que assolavam a
humanidade. Na época a pobreza, miséria, fome, entre guerras, formas
precárias de tecnologia e doenças solapavam e ameaçavam grupos e
comunidades, basta recordarmos da peste. Interessante também
recordarmos como o “avanço” da modernidade chegava anunciando
seus arautos com as ruas asfaltadas, telefones e formas de
comunicação que pareciam senão diminuir, pelo menos, reduzir o
distanciamento. O que diria Charles Baudelaire se estivesse vivo hoje?!
Contudo, não demorou muito para pensadores e cientistas, herdeiros
dessa vaga “promessa”, começarem a denunciar que a solução dos
problemas estava longe de ser “resolvida”. Freud foi um deles, médico e
um clássico pensador iluminista, foi herdeiro desse ideal de ciência.
Pretendia uma psicanálise científica, mas logo percebeu que não seria
gratuita essa reivindicação e pagava-se um alto preço por ousar
questionar os preceitos científicos da sua época. No entanto, como um
pensador da época, Freud também levava muito a sério a comunidade
científica e identificou que o que a comunidade científica reivindicava, na
verdade, não era honesto, a saber, uma depuração da ciência capaz de
ruborizar até Descartes. Devemos a Galileu a noção de uma ciência
capaz de matematizar o saber, afinal, é a partir dele que se pôde
desenvolver, por exemplo, como bem lembra Hannah Arendt, modelos,
paradigmas e instrumentos capazes de fornecer conhecimento e
diminuir a distância entre a terra e os planetas que orbitam a nossa
galáxia. Devemos também a Merleau-Ponty o esclarecimento entre o
anúncio dessa nova ciência e seus representantes, de Galileu a Descartes
e no que ela se tornou. O filósofo vai chamar de Pequeno Racionalismo a
apropriação da ciência e no que ela se torna ao retirar sua “alma”. A
alma que precede toda e qualquer ciência é a que pode constituir seus
fundamentos, questões que a precedem como possíveis de se fazer
epistemologia, teorias do conhecimento. Parece abstrato, mas é
importante pensarmos a teoria do conhecimento, como se constrói, se
desenvolve se responde a questões.
Tudo isso para lembrar que a senhora Pasternak, ao lançar um livro, ela
própria e seu companheiro Carlos Orsi, já denunciam o conteúdo, cujo
título- “Que bobagem! Pseudociências e Outros Absurdos Que Não
Merecem Ser Levados a Sério, da editora contexto- se revela. Imagino
que, pelos comentários amplamente divulgados em redes sociais e sites
de jornais conhecidos como O Estadão, o livro está realmente cheio de
bobagens, travestidos de cunho científico. Esqueceram de esclarecer que
essas questões já foram colocadas. A noção de ciência, filosofia, e da
“caça às bruxas”, já foram tratadas na história do conhecimento. Pois
bem! Ela chega atrasada, tomando tempo e confundindo os leigos, se
valendo do seu nome e agindo como oportunista ao se apropriar de
ideias rasas e preconceituosas, sem se dar ao trabalho de
estudar,fundamentar, embasar, ler, que seja, a respeito. Ao lançar esse
livro, quer dizer, talvez um manual, ela repete o receituário dos “juízes” de
plantão, aqueles que reivindicam, como detentores, o próprio saber e
tudo aquilo que escapa à própria métrica, são considerados dejetos.
Freud já havia nos alertado para tomarmos cuidado ao jogar a água do
bebê, após o banho, fora e não corrermos o risco de jogarmos o bebê
junto, pois é isso que ela faz quando usa de um lugar de prestígio e do
nome que galgou na conduta da pandemia, para se aproveitar, joga o
respeito que tem junto aos seus pares e outros no lixo. Rasga sua
autoridade para se lançar ao ridículo diante de outras frentes de
saberes. Me parece que Pasternak esqueceu-se do básico, voltar ao
princípio do que é ciência, pelo menos a que ela profere, a dita
“cartesiana” e levar em consideração a dúvida. Ao abrir mão dos
princípios que regem a boa ciência ela faz o Pequeno Racionalismo,
chama de ciência, mas o que faz tem nome, traveste a ciência de
cientificismo. Se partisse daí, em se permitir duvidar, talvez tivesse
desistido da sandice de publicar bobagens, porque nisso ela foi honesta,
o livro promete ser uma bobagem!
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👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Que boa reflexão!
Obrigada 🌷