Miudezas

Natal e final de ano nos alcançando. Encontros, reencontros e desencontros… Aberturas para o novo que chega e adeus para o que se encerra. E eis que ele, o novo, se abre para planos futuros, sonhos e projetos. O desejo vai, devagarinho, espreitando, buscando um jeito de sair pelos poros. Ele se permite chegar ao perceber que a sentinela pode estar de passagem livre. Opa! Onde está o guarda? Foi tomar um café ou, se preferirem, aquele vinho quente nos altos dos Alpes europeus, ou um suco de laranja por aqui pelos trópicos.

Ufa!! Que calor, nesse final de ano! E dilúvios também, daqueles que quase levam a gente, se nos pegam desprevenidos. Chinelas havaianas, pamonha na sacola, peru no forno. Beijos e abraços, cartas de amor. Despedidas ou partidas, corações espatifados. Promessas para o futuro próximo ou nem tão próximo.  Miúdos no forno: coração de galinha, miolo, fígado, língua de boi… Hummm!! Que tal uma rabada?!

Rabada ou rabanada?!

E os restos vêm e vão, o coração pula na cozinha fazendo farofa e, no conversê…, a amiga liga…

— Vamos encontrar?

— Bora!

Sem hora de chegar no trabalho, brechinhas para fugir descalça, lavar a varanda, aguar as plantas, pensar à toa, a amiga liga.

— Vamos?

— Onde?

— Ah!! Hoje quero ir ao centro fazer miudezas!

Essa palavra ressoa, faz o coração pausar e depois borrifar de alegria e de esperanças que se renovam, em meio aos restos que ficam pelo caminho, ou a gente vai guardando miúdo: retira papéis ou sonhos da gaveta, do bolso ou mesmo das sacolinhas plásticas que guardam o pão mofado.

E vamos?! Vamos!  

Ano novo chegando! Um brinde à vida! Deixe a sentinela abrir, dê uma escapada, uma fugida, nem que seja de si mesmo. 

Vamos?

Vamos fazer farofa de miúdos. 

Conversas, passeios e mais encontros das miudezas.

Quero a mesa farta de palavras.

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Respostas de 33

  1. Querida Denise, “o fruto cai sempre perto da árvore” – é o óbvio ululante (lembrei Nelson Rodrigues, agora)… E o óbvio mostra-me o DNA do talento literário. Sempre admirei a poesia diluída na prosa dos contos do meu amigo Roberto Fleury, um autor que decorava partes de seus escritos e os declamava como versos de um poema longo e cativante. Miguel Jorge, naquele tempo de nossas estreias (final da década de 1970), gostava de contar que “o Roberto decora seus contos e os declama inteirinhos para nós!”. A magia da boa construção, que ele tão bem praticou, reflete-se (repete-se) em você. Quero conhecer, também, os seus contos e poemas!
    Feliz 2024, Denise!

    1. Que coisa linda de ler! Fiquei emocionada! Obrigada 😉 por essas e outras vale tão a pena escrever! Escrever faz conexão 💛📝sinto gratidão e um acalento de saber mais sobre meu querido e amado pai 🫶🏼Obrigada pelas suas palavras. Palavras fazem liga e é o que nos conecta e nos constitui como humanidade 🫶🏼🌼📝💛

  2. Crônica linda e interessante! Você esmiuça detalhes do nosso cotidiano e os coloca em forma de poesia e tudo fica mais bonito. Parabéns, sua veia é quente! Que bom que vc O puxou, continue assim!
    Feliz 2024!😘

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