Em tempo de espírito natalino, antes que o ano novo venha fazer dobrar os votos de novos tempos, queria lembrar de experiências corriqueiras e que passam despercebidas, ainda que celebremos o Natal. Uma delas me ocorreu ao receber carinhosos presentes vindos de outro lado do Atlântico. Foram mimos, como um cartão natalino escrito à mão (sim, em tempos de WhatsApp,um manuscrito é relíquia), enfeite para árvore de Natal, também feito manualmente, e um calendário com as paisagens daquele país. O calendário trazia na capa a imagem do castelo Eltz, onde nos encontramos pela primeira vez para um passeio. Éramos duas famílias: eu, minha filha, meu filho e meu esposo e a família do intercâmbio do meu filho: a mãe, o pai, o pequeno Leo.
“São singelas lembranças”, insistiu a família ao dizer que não são presentes de verdade. Quis responder à altura daqueles mimos e disse que são genuinamente verdadeiros, pois são simbólicos, significativos e traduzem o tempo que eles dedicaram para pensar em cada um de nós ao escreverem e pintarem o cartão de Natal. O tempo de fazer um enfeite de Natal e o tempo de procurar uma pequena lembrança que dizia do nosso encontro. Bonito, singelo, tocante.
Volto ao tocante para dizer que nem sempre o Natal precisa, e deve, ser comemorado em “família”, essa ideia de família natalina pode muito bem expulsar nossa solidariedade de uns para com os outros e a nossa capacidade de estabelecer laços. Muitas vezes não é com nossos familiares que temos essa sintonia e tampouco carinho.
Se é de amor que estamos falando, de celebração e de solidariedade, são os amigos e, muitas vezes, gentes de língua estrangeira, que estendem um gesto de afeto, singelo, pequeno e tocante, que faz nosso coração se emocionar e nos deixam perplexos diante da constatação de que dedicaram tempo, escrita e afeto na confecção de lembranças. Isso é verdadeiro. Que nosso espírito de Natal nos torne mais generosos, afinal, o amor pode vir em forma de um prato quentinho e gostoso servido ao filho, pode ser palavras, um alô ou uma pergunta sincera sobre como você está se sentindo. Pode ser a época de nos dedicarmos uns aos outros, cultivarmos um pouco mais de empatia, termos tempo para pessoas que nos são caras e que podem ser nosso respiro em tempos de tantas mesquinhezas afetivas.
O intervalo de tempo que tiramos para nos dedicarmos a alguém é a presença transformada em presente. Aquela presença que revigora a alma do espírito natalino.
Respostas de 3
Olá
Muito lindo e verdadeiro…me emocionei tanto!!!
Que seu ano novo seja repleto de bençãos!!?
🌷🌷🌷